Na noite de 3ª feira, antes do Acampamento de Verão do Grupo Explorador, quando as patrulhas preparavam o material, o Gonçalo Azevedo apareceu com uma caixa de cartão com furos.
“Olhem o que eu encontrei!! Está ferido, não consegue voar.”
“É um falcão bebé.”
“É uma andorinha.”
Foi assim que começou a história do Beringela, a nossa andorinha falcão, baptizado pela Patchitcha.
O resto da noite foi dividido entre a preparação do acampamento e a atenção ao passarinho, sobretudo a decisão do que fazer com ele. Entre fritá-lo, libertá-lo na natureza, tratar dele até conseguir voar e adoptá-lo, houve um pouco de tudo. Por fim, acabei eu por ficar encarregue dele. A caminho de casa, pensei:
“Vou deixá-lo já aqui no jardim, não tenho tempo para tratar disto. Depois digo que fugiu. Não posso, o escuta é leal… Então vou libertá-lo na Serra de Carnaxide. Mas se não voa, morre seguramente. Depois vão-me acusar de ter matado o bicho.”
Acabei com o Beringela dentro de uma gaiola, a dormir em minha casa.
“Uns quadradinhos de fiambre, para o caso de seres um falcão, e uns insectos mortos pela minha gata, caso sejas uma andorinha. Se me acordas antes do despertador, estrangulo-te, isso é certo!”
No dia seguinte, voltei a pô-lo na caixa e foi comigo para o trabalho. De vez em quando, um piado mais estridente atraía os colegas curiosos.
“Pássaro? Aqui? Não, não ouvi nada… Deve ter feito confusão…”
Entretanto, eu e o Ivo investigámos um bocado na internet e chegámos à mesma conclusão: é um andorinhão preto (Apus apus). Decidi que quando saísse do trabalho, ia entregá-lo ao Centro de Recuperação de Animais Selvagens do Monsanto. (O que um animador não faz para não dar desgostos aos seus escuteiros…)
Como à noite o Centro está fechado, as entregas fazem-se na Polícia Florestal. Quando lá cheguei e disse que tinha um andorinhão para entregar, disse-me assim o polícia:
"Sabe, amigo…" (com ar de quem me ia contar uma história que já tinha contado muitas vezes antes) "Os andorinhões têm uma espécie de defeito de fabrico: têm asas muito grandes e patas muito pequenas. Isto faz com que tenham dificuldade em levantar voo a partir do solo, e que por isso muitas vezes pareçam estar feridos quando não estão. Ora tente lá lançar o bicho ao ar."
Tirei o Beringela da caixa, atirei-o ao ar, e ele desapareceu a voar no azul infinito do céu :-)
Depois o meu amigo polícia florestal ainda me disse assim:
"Mas não se preocupe, que isto acontece quase todos os dias" (como quem diz: não és o único otário no mundo!) Às vezes até os confundem com andorinhas, ou então com juvenis de falcão!!"
Fiz um ar de desdém, como se dissesse:
“Andorinhas? Juvenis de falcão? Como podem ser tão burras essas pessoas? E vim embora.”
E pronto, amigos, termina aqui a história do Beringela, a nossa andorinha falcão. Sobrou apenas uma pena, que ele arrancou com o stress da gaiola, e que vou guardar para dar ao Gonçalo de recordação.
(escrito por Lucas)